Avançamos! Inegavelmente avançamos! Saímos de uma era de destruição da cultura popular por um governo antinacional para um momento em que temos, ao menos, um Ministério da Cultura gerido por uma grande representante da cultura nacional. Diante do que vivemos, isso é um passo à frente.
Mas não podemos ficar restritos à prorrogação da Lei Paulo Gustavo ou ao apoio cultural super burocratizado da lei Rouanet. O Ministério da Cultura precisa, urgentemente, apresentar um projeto de Estado para a Cultura Nacional que contemple a diversidade que este país de tamanho continental tem. Quem sabe uma Jornada Multicultural Popular, que ocorra cada ano em um estado diferente com rodízio de regiões do país e que seja direcionada especificamente para pequenos produtores culturais. Pessoas de talento que reproduzem a diversidade cultural do país, mas que estão alijadas da máquina cultural privada porque não vendem, porque não têm milhões de seguidores nas redes sociais.
No Rio de Janeiro, por exemplo, há um grupo de escritores, cronistas, poetas e contistas do subúrbio que conta com talentos como Flavio Braga, Ivan Errante Costa, entre outros. Eles falam sobre a realidade cultural desta parte da cidade, que dificilmente veremos publicados por uma grande editora. Porque o público consumidor, em tese, é restrito àquela parte do Rio de Janeiro, onde as pessoas leem menos. O que remete a outra questão: o acesso aos bens culturais, mas isso deixamos para outro artigo.
Lembro-me do meu encantamento quando peguei pela primeira vez um livreto de cordel. Li a história de Lampião num piscar de olhos e, mesmo notando os erros ortográficos, fiquei maravilhado. Fui entender mais tarde que aqueles “erros” derivavam da forma de falar daquelas pessoas ou de como a métrica entrava no repente, e isso também faz parte da cultura. Meu pai, então, me presenteou com a antologia de Patativa do Assaré. Aquilo me fez conhecer um Brasil que eu não teria a chance de conhecer se não tivesse me deparado com aquele livreto impresso com carimbo de borracha feito a mão pelo próprio poeta, multiartista multicultural.
Por isso, Ministra Margareth Menezes, precisamos de um plano multicultural para o Brasil. Um plano que seja desburocratizado e permita aos artistas e produtores culturais mostrarem sua produção, sua arte, suas obras.
De um escritor/professor para uma multiartista: seja ousada, bata de porta em porta e consiga recursos, não podemos ser soterrados por uma produção cultural externa sem reagir. Precisamos falar de nós para nós mesmos.
*Leonardo Bruno da Silva é doutor e mestre em História Política. É professor de História da rede pública de ensino há 20 anos e também escritor; autor do livro “O coronel que queria matar o presidente”