Vacina inédita para chikungunya será produzida no Butantan

A vacina inédita para a chikungunya aprovada nos Estados Unidos, nesta quinta-feira, será ser produzida no Instituto Butantan, em São Paulo. A instituição e o laboratório responsável pelo imunizante, a franco-austríaca Valneva, têm um acordo de transferência de tecnologia desde 2020.

A parceria prevê a condução de ensaios clínicos pelo Butantan, além de pagamentos de royalties sobre as vendas e por marcos do desenvolvimento do produto. Em troca, o instituto brasileiro poderá desenvolver, fabricar e comercializar a vacina, aplicada em dose única e chamada de IXCHIQ.

No momento, por exemplo, o Butantan realiza um teste clínico de fase 3 da proteção com adolescentes, cujos resultados podem ampliar o grupo etário elegível. Nos EUA, o aval da Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora americana, foi para adultos acima de 18 anos, faixa contemplada pelos estudos já concluídos.

Os testes brasileiros acompanham 750 adolescentes, de 12 a 17 anos, que residem em áreas endêmicas nas cidades de São Paulo (SP), São José do Rio Preto (SP), Salvador (BA), Fortaleza (CE), Belo Horizonte (MG), Laranjeiras (SE), Recife (PE), Manaus (AM), Campo Grande (MS) e Boa Vista (RR).

Pedido de aprovação no 1º semestre

Em nota, o instituto paulista diz que a previsão é submeter o pedido para aprovação da vacina no país à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no primeiro semestre do ano que vem. Para o Butantan, a autorização pelo FDA “demonstra o potencial do imunizante e fortalece a possibilidade de sua futura liberação no Brasil”.

Nos EUA, para dar o sinal verde, a agência analisou dois ensaios clínicos feitos na América do Norte, com cerca de 4,5 mil participantes. Em um deles, publicado na revista científica The Lancet, 98,9% dos voluntários que receberam a dose desenvolveram anticorpos contra a doença nos primeiros 28 dias após a imunização.

A longo prazo, no acompanhamento de seis meses, o percentual caiu levemente, para 96,3%, mas permaneceu elevado. Os efeitos colaterais mais comuns relatados foram dor de cabeça, fadiga, dores musculares, dores nas articulações, febre, náusea e sensibilidade no local da injeção.

“A infecção pelo vírus chikungunya pode levar a doenças graves e problemas de saúde prolongados, especialmente para adultos mais velhos e indivíduos com condições médicas subjacentes. A aprovação de hoje atende a uma necessidade médica não atendida e é um avanço importante na prevenção de uma doença potencialmente debilitante com opções de tratamento limitadas”, diz Peter Marks, diretor do Centro de Avaliação e Pesquisa Biológica da FDA, em nota.

Segundo apuramos, o diretor do Butantan, infectologista Esper Kallás, já havia mencionado a alta expectativa em relação ao imunizante. No ano passado, o instituto inaugurou uma nova fábrica, inicialmente com o objetivo de ser utilizada para produção da CoronaVac, vacina contra a Covid-19.

Porém, com a queda na demanda, Kallás esclareceu que as discussões são para que o uso da estrutura seja direcionado para as novas vacinas em desenvolvimento pela instituição, ou em parceria com ela, como a para chikungunya e para dengue.

Em nota, o diretor comemorou a aprovação da dose da Valneva pela autoridade sanitária americana: “É uma ótima notícia para todos. Estamos cada vez mais próximos de oferecer uma vacina contra chikungunya para a população. O Butantan tem muito orgulho de participar ativamente deste processo de desenvolvimento”.

O que é a chikungunya?

A chikungunya é uma arbovirose transmitida pelos mosquitos Aegypti e Aedes albopictus, que também disseminam os patógenos causadores da zika e da dengue. A doença pode ser assintomática ou se manifestar por meio de dores intensas nas articulações de pés e mãos, dores de cabeça, dor muscular e manchas vermelhas na pele.

Segundo o Butantan, o principal impacto da chikungunya são as sequelas pós-infecção, com as dores articulares podendo se estabelecer de forma crônica. “Muitos desses casos ocorrem em pessoas jovens, que não conseguem mais nem trabalhar. Então essa arbovirose acaba tendo consequências não só na saúde, mas na economia”, diz a diretora médica do Butantan, Fernanda Boulos.

Segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde sobre arboviroses, divulgado no final de outubro, o Brasil registrou 143.739 casos prováveis de chikungunya até o mês em 2023, número 41% menor que o observado no mesmo período de 2021. Em relação às mortes, foram 82 confirmações, 6,8% a menos do que o do ano passado.

Hoje, a principal forma de prevenção à doença é pelo controle dos mosquitos que transmitem a doença. Medidas eficazes que podem ser tomadas pela população envolvem esvaziar e limpar frequentemente recipientes com água parada, como vasos de plantas, baldes, pneus, garrafas plásticas, piscinas sem uso e sem manutenção, e descartar adequadamente o lixo.

Além disso, novas iniciativas têm crescido no Brasil, como o método Wolbachia, por meio de uma parceria do World Mosquito Program (WMP) com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A estratégia envolve a liberação de mosquitos que carregam uma bactéria chamada Wolbachia, que não causa danos aos artrópodes ou à população, mas impede que os vírus das doenças se desenvolvam dentro deles.

Neste ano, o WMP e a Fiocruz anunciaram a expansão do método no Brasil com a construção de uma biofábrica capaz de produzir até 100 milhões de mosquitos por semana, 5 bilhões ao ano.

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