A história do cangaço no Brasil já foi contada em diversos filmes, séries e livros, com Lampião como o protagonista desse período, e Maria Bonita, muitas vezes, retratada apenas como companheira dele. Em Maria e o Cangaço, série do Disney+ que estreia na plataforma nesta sexta-feira, 4, a perspectiva muda, com Isis Valverde no papel principal da cangaceira para contar a história dessas mulheres que atravessavam o sertão nordestino em grupos.
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Baseada no livro Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço”, de Adriana Negreiros, da jornalista Adriana Negreiros, a nova série é focada na cangaceira mais famosa do Brasil e em experiências pelas quais ela passou, como a maternidade no meio do cangaço.
Foram exatamente assuntos como a maternidade e a luta das mulheres por espaço e voz na sociedade que aproximaram Isis Valverde da personagem. “É uma realidade muito distante da minha, a gente está falando dos anos 1920, dos anos 1930, no meio do cangaço, de várias situações que eles viveram, mas a gente tem um lugar em comum que é a maternidade e o feminino”, disse a artista.
Para viver a personagem, a atriz passou por uma longa preparação por estudos de entrevistas e da história do cangaço, mas só se sentiu pronta para dar vida à Maria Bonita quando conseguiu se conectar com ela. “O feminino tem um lugar em que todas nós nos conectamos, nessa grandiosidade de ser mulher. Eu e Maria, a gente se encontrou nesse feminino, foi ali que o link aconteceu, e eu consegui ir para a tela e interpretá-la”.
Sergio Machado, que dirigiu a série junto de Thalita Rubio, comenta que a maternidade tem um papel relevante na obra. “Tem uma particularidade no cangaço que poucos conhecem, as cangaceiras quando engravidavam e pariam eram obrigados a dar os filhos, porque uma criança denuncia a localização do bando e atrasa uma fuga. Então, elas tinham que dar e isso era comum de acontecer. A história gira em torno dessas violências sofridas pelas mulheres, mas também tem muita aventura”, descreve o diretor.
O aspecto feminino da série foi algo que impactou Julio Andrade ao interpretar Lampião. O ator contou que buscou como referência o trabalho de diferentes atores que deram vida ao cangaceiro no passado, mas ele buscou o feminino para levar humanidade ao personagem. “Mirei em um lugar mais humano no personagem, é o que tento fazer em todos os meus personagens, tentei trazer essa influência do feminino, que é um lugar mais sutil e a gente vê Lampião sem chapéu, sem óculos, despido.
Isis Valverde, Julio Andrade e o restante do elenco passaram meses gravando Maria e o Cangaço em Cabaceiras, na Paraíba, e passaram por uma longa preparação. Além dos estudos e da leitura do livro que baseou a obra, eles também aprenderam a atirar, a andar de cavalo e a imitar o canto de um pássaro que servia como sinal para os cangaceiros.
“Aprendemos um pouco de cada coisa e também redescobrimos essa geografia, esse solo, essa vegetação mesmo, que eu acho que a gente tem uma impressão muito errada do que é a Caatinga. Inclusive, dentro da preparação, fizemos um estudo muito grande sobre os pássaros e como eles têm uma relação com os cangaceiros, foi fantástico”, disse Clébia Sousa, que interpreta Sila, cangaceira que foi confidente de Maria Bonita.
Para contar a história de Maria Bonita, foi escolhido um elenco majoritariamente nordestino, que ressalta a importância de ver o cangaço nas telas, ainda mais sob uma perspectiva das mulheres.
“Acho importante que histórias como essa sejam contadas e recontadas. Tantas vezes o cangaço esteve aí sendo contado maneiras a focar na história dos homens, da guerra. Existem muitas maneiras de se contar essa história e que bom que mulheres também queiram contar essa história, né? Acho o importante para quem assiste, para quem propõe e para quem faz. Para as mulheres, para as atrizes, para as mulheres que estão em casa, nordestinas ou não, para mulheres brasileiras. Porque isso aqui é a nossa cultura, é a nossa história”, argumenta Chandelly Braz, que interpreta Dondon, irmã de Maria Bonita.
Fonte Terra