Mariana Rios
Mariana Rios, de 39 anos, contou recentemente em um programa de entrevistas que, após um período estressante, sofreu com uma crise de zumbido nos ouvidos. Ao consultar um médico, a atriz, escritora e empresária foi informada que sofria de uma condição conhecida como Doença de Menière. A artista relatou que perdeu 30% da audição do ouvido esquerdo e convive com zumbido permanente. Mas, afinal, o estresse pode causar zumbido e tontura?
“Não podemos afirmar que o estresse e a ansiedade, isoladamente, sejam a causa da tontura e do zumbido. No entanto, com certeza agravam os problemas e são agravados por eles, já que pacientes com zumbido e tontura não tratadas podem ter piora do quadro de saúde mental”, explica Nathália Prudencio, médica otorrinolaringologista e especialista em tontura e zumbido.
“O que sabemos é que o estresse crônico, a maior demanda emocional e a ansiedade podem funcionar como gatilhos ou piorar a percepção do sintoma, principalmente em doenças crônicas causadoras de tontura, como a Doença de Ménière, além de outras condições como a TPPP (Vertigem Fóbica) e a Enxaqueca Vestibular”, acrescenta a médica.
Estresse
Segundo a médica, as alterações observadas durante períodos de alto estresse ou crises de ansiedade — como inquietação, apreensão, palpitação e respiração acelerada — são decorrentes de uma grande liberação de adrenalina no organismo.
“Em alguns casos, o aumento da frequência cardíaca e a hiperventilação podem diminuir o fluxo sanguíneo no cérebro e provocar tonturas ou sensação de atordoamento. Quando o sintoma é persistente, porém, é provável que exista alguma anormalidade no sistema vestibular ― responsável por regular o nosso equilíbrio, a nossa coordenação e a nossa orientação espacial ―, ou problemas hormonais e metabólicos associados”, explica a médica, que tem mestrado em otoneurologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
No entanto, a tontura, sim, pode gerar ansiedade ou estresse, especialmente no início do quadro, devido ao seu caráter imprevisível, segundo a especialista.
De acordo com a otoneurologista, não há dúvidas de que, nos tempos atuais, há maior demanda emocional e temas como ansiedade e estresse estão em alta nas discussões acadêmicas, na mídia, na internet e nas conversas do dia a dia. “As emoções são também uma expressão da nossa fisiologia e já sabemos que a sobrecarga no trabalho, nos estudos e nas relações, por exemplo, pode gerar efeitos diversos na saúde. Mas no caso da tontura e do zumbido, precisamos identificar a real causa para tratar tontura e zumbido de maneira assertiva. E, claro, a ansiedade também deverá ser tratada, pois ela é um agravante”, explica a médica.
Ansiedade X Zumbido
Segundo a médica, essa relação entre ansiedade e zumbido é muito comum e pode dar algumas pistas sobre o quadro do paciente e, principalmente, sobre como ele se relaciona com o zumbido. “Sabemos, hoje, que apenas um, em cada dez pacientes, apresenta o zumbido como um incômodo importante. Nessas pessoas, o sintoma pode ser um fator determinante para o surgimento ou agravamento de transtornos do humor, como a ansiedade e a depressão”, esclarece.
“Por outro lado, observamos também que períodos de maior estresse ou demanda emocional podem influenciar a maneira como o paciente vivencia o sintoma. Nesses momentos, as pessoas tendem a atribuir maior atenção ao som e aos seus impactos no dia a dia”, afirma Nathália.
“Não são os fatores emocionais, isoladamente, que desencadeiam esse quadro. Na maioria das vezes, há vários outros fatores envolvidos e o fator emocional acaba funcionando como um gatilho para aparecimento do zumbido no ouvido no paciente, que já tinha outros motivos para tê-lo”, destaca a especialista.
Causas
A médica afirma que o zumbido também pode ser desencadeado por: infecções; transtornos do labirinto; cerume impactado; medicamentos; alterações vasculares; e desordens funcionais. De acordo com a profissional, pacientes cujo zumbido está relacionado à disfunção da articulação temporomandibular (que controla o movimento de abrir e fechar a boca), por exemplo, podem experimentar uma piora do sintoma em momentos de tensão, pois esse estado pode gerar maior apertamento dentário e contraturas musculares próximas ao ouvido.
“Pessoas com mordida errada, bruxismo ou que realizaram procedimentos dentários também podem apresentar zumbido no ouvido pelo mesmo motivo. Na maior parte dos casos, o que observamos é que os fatores emocionais influenciam diretamente a percepção do paciente sobre o zumbido e as características do zumbido em si, como o aumento da intensidade do som”, explica.
“Quando analisamos a relação entre zumbido no ouvido e ansiedade, o que mais nos preocupa são os impactos do sintoma na saúde mental do paciente e não o oposto. A maioria das pessoas que apresentam o zumbido tendem a se habituar ao sintoma e não o percebem como um incômodo importante. Para a minoria que sofre com a presença do som, porém, o zumbido pode afetar significativamente sua qualidade de vida. Se comparamos um grupo de pessoas sem zumbido com um grupo de pessoas que têm o sintoma, observamos uma prevalência maior de transtornos de humor entre aqueles que apresentam o zumbido”, diz a médica.
Segundo a médica, para tratar o problema, primeiro, é necessário entender que esses sintomas precisam ser investigados por um médico otorrinolaringologista ou um otoneurologista (otorrino especialista em zumbido e tontura) para obter um diagnóstico confiável. “Existem vários tratamentos, de acordo com a causa, que podem melhorar os sintomas. No caso da ansiedade, o acompanhamento psicológico também pode ajudar e diminuir o peso desse agravante”, finaliza otoneurologista.