Indústria têxtil
O recente lançamento da Liga de Descarbonização pela Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção) marca um passo significativo no percurso do setor em sua jornada, cada vez mais enfática, rumo à produção e consumo sustentáveis. Tal movimento apresenta um cenário promissor para o futuro da moda e alinha a atividade às exigências globais de redução de emissões de gases de efeito estufa. Também contribui para o posicionamento do Brasil como líder emergente na agenda das mudanças climáticas.
Diferentes estimativas apontam que a cadeia de valor da moda responde globalmente por 2% a 8% das emissões totais. No entanto, sabemos que a China – maior produtor têxtil e de confecção no ranking mundial – é responsável por grande parte dessas emissões, porque sua matriz energética é baseada em combustíveis fósseis, em particular o carvão.
O Brasil apresenta condições únicas, que o colocam em posição privilegiada quanto às emissões globais. Com matriz energética predominantemente renovável, composta majoritariamente por hidrelétricas, e com avanços notáveis em geração eólica e solar, tem um ativo ambiental incomparável.
Atualmente, de acordo com o Balanço Energético Nacional, 74% das energias consumidas pela indústria têxtil e de confecção brasileira são de origem renovável, sendo 67% provenientes da eletricidade e 7%, de biomassa. O gás natural representa 21% do consumo do setor. É neste último item que se faz necessária avaliação de possibilidades de substituição para redução de emissões.
A legislação nacional, aliada à nossa matriz energética limpa, proporciona um diferencial competitivo crucial para a indústria têxtil e de confecção, que deve aproveitar essas vantagens para se consolidar no mercado global, o qual demanda de maneira crescente responsabilidade socioambiental dos produtos consumidos. Nesse sentido, também cabe mencionar que o setor conta com cerca de quatro mil empresas certificadas, que garantem práticas socialmente justas e responsáveis. Ademais, o Brasil também é detentor da maior safra de algodão certificado do mundo.
Para se destacar no mercado nacional e global, as empresas precisam investir em inovação e tecnologia e garantir uma governança eficaz e um engajamento real na agenda de sustentabilidade. A pressão por transparência e o combate ao greenwashing são pontos críticos que exigem atenção contínua.
A Liga de Descarbonização é um passo nessa direção, já que incentiva as empresas do setor têxtil e de confecção a publicarem seus Inventários de Gases de Efeito Estufa. Estes são importantes ferramentas de identificação de possibilidades de redução das emissões, seja por meio da adoção de novas tecnologias ou aumentando a eficiência no uso de recursos para produção.
No horizonte, a 30ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), que ocorrerá em Belém do Pará, em novembro de 2025, representa uma oportunidade ímpar para demonstrar o comprometimento do País com a redução das emissões de gases de efeito estufa. Será um importante espaço para evidenciar os diferenciais da indústria têxtil e de confecção brasileira.
A jornada rumo à sustentabilidade é oportunidade única para o setor. Com um histórico de compromisso ambiental, arcabouço regulatório adequado e uma posição estratégica, o Brasil tem tudo para liderar globalmente essa agenda, mostrando ao mundo que a combinação de tradição e inovação pode resultar em uma indústria têxtil e de confecção cada vez mais responsável e alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e aos princípios da governança ambiental, social e corporativa (ESG).
*Fernando Valente Pimentel é diretor-superintendente e presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).
* Camila Zelezoglo é coordenadora de Sustentabilidade e Inovação da Abit.