G20 acontece no Rio de Janeiro
Organizações não governamentais de todo o mundo assinaram uma carta aberta endereçada às lideranças do G20 e às instituições que financiam a Aliança Global Contra a Pobreza e a Fome. O documento, divulgado hoje, reforça a necessidade de alinhamento entre políticas públicas e de financiamento aos princípios da Aliança, incluindo ao estímulo de dietas saudáveis e diversas, o apoio a pequenos produtores sem vínculos com corporações industriais, o estímulo a sistemas que utilizam práticas agroecológicas, e a garantia do bem-estar animal.
As organizações Compassion in World Farming, International Accountability Project, Mercy For Animals no Brasil, Proteção Animal Mundial – Brasil, Sinergia Animal, Sociedade Vegetariana Brasileira, ICLEI-América do Sul e Friends of the Earth U.S. participam da iniciativa. A carta é baseada em relatórios da Comissão Eat Lancet e de instituições como, IPCC, IPBES e o recente “Receita para um Planeta Habitável”, do Banco Mundial — todos com fortes evidências de que a transição para dietas mais ricas em vegetais é urgente para alcançar a erradicação da fome.
“Solicitamos aos financiadores da Aliança Global e aos países do G20 que invistam em sistemas alimentares verdadeiramente sustentáveis e que deixem de financiar o sistema de exploração animal industrial que é um dos vetores da crise que exacerba pobreza e fome”, afirma Cristina Mendonça, diretora executiva da Mercy For Animals no Brasil.
“Sabemos que a pecuária industrial é um dos maiores vetores de degradação ambiental, e contribuinte das mudanças climáticas. Esse setor também aumenta a insegurança alimentar e gera grandes desigualdades sociais, concentrando poder nas mãos de corporações multinacionais enquanto destrói redes locais de alimentos que garantem a soberania alimentar”, completa.
“Somente no último ano, nossa Coalizão ‘Stop Financing Factory Farming’ identificou que os maiores bancos de desenvolvimento (muitos dos quais estão comprometidos com a Aliança Global Contra Fome e Pobreza) forneceram quase US$3 bilhões de apoio à pecuária industrial. É fundamental que esses investimentos sejam revistos”, aponta Carolina Galvani, diretora executiva internacional da Sinergia Animal.
Abaixo, as principais questões levantadas pelo documento.
- A pecuária e aquicultura industrial utiliza mal os recursos necessários para alimentar a população
Estudos mostram que, em termos de uso da terra e calorias ou proteínas, a produção de alimentos vegetais é significativamente mais eficiente. O relatório Global Land Outlook da Convenção das Nações Unidas para Combate à Desertificação estima que “quase um terço do valor total da produção global agrícola é perdido ao ser processado em sistemas de pecuária ineficientes.”
A ração necessária para a pecuária e a aquicultura desvia alimentos que poderiam nutrir pessoas. O relatório “Planetary Health Check” de 2024 afirma que seis dos nove limites planetários já foram ultrapassados, ressaltando que “os sistemas alimentares estão entre os maiores vetores de degradação ambiental”. O relatório conclui que: “alinhar dietas com as recomendações da Comissão EAT-Lancet, que recomendam a redução do consumo de proteínas animais é crucial tanto para a sustentabilidade ambiental como para a saúde humana”
2. A pecuária torna o abastecimento de alimentos altamente vulnerável
O relatório do PNUMA, “Prevenindo a Próxima Pandemia”, destacou que o “aumento da demanda por proteína animal” e a intensificação insustentável da pecuária e aquicultura são fatores que aumentam o risco da emergência de zoonoses. Esse risco, sustentado por práticas como alta densidade populacional e altos níveis de estresse dos animais, também aumentam as chances de disrupção no abastecimento alimentar.
3. A pecuária representa riscos à segurança alimentar
Os alimentos de origem animal representam um risco desproporcional de doenças transmitidas por alimentos (DTAs), respondendo por 35% do total da carga de DTAs, embora contribuam com apenas 18% das calorias e 37% das proteínas consumidas globalmente. Estudos mostram que países que produzem mais carne têm mais mortes por DTAs do que países de riqueza e população semelhantes (Fonte: revista Science).
4. A pecuária é incompatível com os limites planetários
A adoção global dos padrões alimentares atuais dos países do G20 até 2050 excederia o limite para emissões de gases de efeito estufa em 263%, o que exigiria entre uma e sete Terras para sustentar este padrão. A maior parte dessa pressão vem do setor de produtos de origem animal.
Acesse aqui a íntegra da carta: Carta Aberta para as Instituições Financeiras Internacionais e Países do G20 sobre seu compromisso para enfrentar a pobreza e a fome.pdf