A Ordem dos Advogados do Brasil Seção São Paulo (OAB SP) manifesta profunda
preocupação com a aprovação do caráter de urgência, na Câmara dos Deputados, do Projeto
de Lei 1904/2024, que equipara ao homicídio o aborto de gestação acima de 22 semanas.
Em primeiro lugar, o projeto estabelece limites mais rigorosos para a interrupção da gravidez
decorrente de estupro, restringindo-a até a 21ª semana. Esta mudança impõe uma barreira
significativa para as meninas e mulheres que foram estupradas, muitas vezes obrigando-as a
levar a gravidez a termo, o que pode ser considerado tratamento cruel e degradante.
Além disso, essa previsão ignora a realidade de muitas mulheres brasileiras que sofrem estupro
e enfrentam um longo caminho até conseguirem um aborto legal, frequentemente
ultrapassando as 22 semanas.
Em segundo lugar o projeto equipara a interrupção da gravidez a partir da 22ª semana ao crime
de homicídio, aumentando consideravelmente as penas, algo sem precedentes na legislação
brasileira desde 1830.
É comprovado que a criminalização severa do aborto não reduz a sua ocorrência, mas empurra
as meninas e mulheres, principalmente as mais pobres para procedimentos clandestinos
inseguros e com alto risco de vida, aprofundando a discriminação social.
Patricia Vanzolini
Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Seção São Paulo.