Tonho Crocco
Tonho Crocco, vocalista do Ultramen, ficou surpreso e feliz ao ver que sua composição Peleia se tornou uma trilha sonora usada por internautas em vídeos sobre a resistência gaúcha diante da catástrofe causada pelas enchentes no Rio Grande do Sul.
A canção, que é do segundo álbum da banda, o Olelê, lançado em 2000, foi feita a partir de um sample da música Não Podemo se Entregá Pros Home, interpretada pelo cantor nativista Leopoldo Rassier (1936 – 2000) e composta por Humberto Gabbi Zanatta, Francisco Alves e Francisco Scherer para exaltar a cultura gaúcha.
“Achei justo as pessoas estarem usando bastante Peleia como trilha sonora deste acontecimento e como símbolo de resistência, principalmente o refrão da música, que é um sample de uma composição de outros artistas, que fala ‘Não podemos se entregar pros ômi'”, diz ele, que também foi afetado pelas fortes chuvas.
“Moro perto do Rio Gravataí e tive que evacuar minha casa no dia três. Ficamos mais de oito dias sem luz e até agora estamos sem água. Graças aos deuses e às deusas, não entrou água no meu apartamento, mas os meus vizinhos não tiveram a mesma sorte”, conta.
Quando pegou a frase da tradicional canção para compor Peleia, Crocco tinha a ideia de fazer uma autocrítica ao gaúcho e falar da necessidade de evolução do povo em relação a alguns temas.
“A gente quis fazer um anti hino das coisas que o gaúcho precisava consertar como o machismo, misoginia e racismo. A ideia era expressar um anti bairrismo e as coisas que me incomodavam no gaúcho. Tem a milonga misturada com hip hop e a letra fala de violência contra a mulher, machismo, misoginia e racismo… A gente queria usar a poesia e coisas gaúchas para falar de algo maior e que poderia ser mudado”, relembra.
A banda Ultramen foi criada em 1991 em Porto Alegre e ficou conhecida por combinar diversos ritmos como rock, funk, rap, samba-rock, soul e reggae em suas canções. Ela é formada atualmente por Tonho Crocco, Zé Darcy, DJ Anderson, Leonardo Boff, Pedro Porto, Chico Paixão e N Jay. Crocco diz que o atual momento não tem inspirado novas composições similares a Peleia, mas que a banda tem ainda duas músicas para serem lançadas assim que as coisas se normalizarem no estado.
“Há muito tempo a gente não compõe nada. Temos ainda duas músicas para lançar, que a gente começou no ano passado e até agora a gente não conseguiu mixar e masterizar, mas elas não têm nada a ver com esse estilo de Peleia”, conta ele, que no dia sete de setembro se apresenta com a banda no Uruguai.
Fonte Revista Quem