Neste verão, as águas dos mares do Brasil bateram recorde de temperatura. O Atlântico Sul, ao largo das regiões Sul e Sudeste, ficou entre 1ºC e 2ºC acima da média histórica em janeiro e na primeira semana de fevereiro. Na costa do Estado do Rio, por exemplo, os termômetros marcaram 28ºC na água, o que significa cerca de 1,5°C acima da média.
Em entrevista ao um jornal do grupo Globo, a cientista Regina Rodrigues, professora de Oceanografia e Clima da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenadora do grupo que estuda o Oceano Atlântico e suas ondas de calor da Organização Meteorológica Mundial (OMM), disse que essa tendência deve permanecer jeito pelo menos até abril.
A reportagem destaca que todos os oceanos, à exceção de uma parte do Pacífico Sul, estão mais quentes, e o Atlântico e o Índico são os que têm aquecido com maior intensidade. Isso já havia acontecido em 2023, mas, segundo Rodrigues, “em 2024 estamos vendo a elevação dar um salto”. “Nunca vimos nada como agora”, afirmou.
Efeitos do mar quente
O mar quente traz uma série de problemas. O primeiro é que aumenta a sensação de calor devido ao enfraquecimento da brisa marinha. Além disso, faz a água passar para o estado de vapor, e este, uma vez na atmosfera, favorece a ocorrência de tempestades.
“O problema é que agora o mar está bem mais quente o tempo todo, independentemente de termos El Niño, La Niña ou períodos neutros. Certamente, isso tem impacto na temperatura e nas chuvas”, observou o meteorologista Marcelo Seluchi, diretor de operações do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), ao O Globo.
Segundo os cientistas, este cenário atual no Brasil é explicado por uma combinação de fatores. Um deles é a influência do El Niño no Atlântico Tropical, que banha o litoral Norte e parte do Nordeste do país.
Regina observou que estudos sugerem que as mudanças climáticas influenciam o aquecimento, sobretudo, na faixa subtropical. Isso acontece porque o Atlântico Subtropical é uma região de confluência de correntes marinhas e, como consequência disso, o calor absorvido pelo mar se mantém na superfície por mais tempo.
Também entra na lista o fato de os mares, que absorvem 89% de todo o excesso de calor produzido pelo aquecimento global associado à ação humana, ter começado a liberar parte desse calor.
“O aquecimento global é mitigado em parte pelos oceanos, que absorvem calor. Só que essa capacidade tem limites. Talvez esteja se esgotando”, argumentou Seluchi.
Fonte Um Só Planeta