Reconhecido pela Unesco como Patrimônio Natural da Humanidade e Reserva da Biosfera, o bioma Pantanal, umas das maiores planícies inundáveis do planeta, que em 2020 viveu sua grande tragédia ambiental, é o tema de Água Pantanal Fogo, exposição manifesto realizada pelo Instituto Tomie Ohtake em parceria com o Documenta Pantanal. Com curadoria de Eder Chiodetto e patrocínio do Itaú e CSN, a mostra reúne fotografias de Lalo de Almeida e Luciano Candisani, dois dos mais proeminentes fotodocumentaristas brasileiros, além de apresentar mapas, livros, infográficos e uma sala de vídeos que auxiliam a compor um panorama potente do Pantanal e de suas urgências.
Lalo de Almeida focou suas lentes no fogo que assolou o Pantanal durante os incêndios de 2020, devastando aproximadamente 26% da área e resultando na morte de 17 milhões de animais. Suas imagens circularam globalmente, desempenhando um papel crucial ao alertar a sociedade, a comunidade científica, o governo brasileiro e organizações internacionais sobre a gravidade do ocorrido. Parte delas, sobretudo o registro de um bugio ajoelhado e carbonizado, conferiu a Lalo o prestigioso prêmio World Press Photo na categoria “Ambiente”.
Já Luciano Candisani, especializado em fotografar ecossistemas ao redor do mundo, traz uma série de imagens da água, sejam elas submersas, terrestres ou aéreas. Suas fotografias, caracterizadas por uma rara combinação de excelência técnica e expressividade, foram produzidas em condições complexas durante as cheias pantaneiras, resultando em um acervo iconográfico de suma importância.
Segundo o curador, ambos os fotógrafos são “cronistas visuais que frequentemente buscam parcerias com cientistas e pesquisadores. Para obter o resultado exposto nessa mostra, criam logísticas complexas e se expõem a vários tipos de perigo. É em trabalhos como esses, que aliam idealismo, paixão e militância, que a fotografia alcança seu ápice, tornando-se uma janela aberta a revelar as idiossincrasias e o sublime do mundo”, conclui.
Os desafios para a preservação do bioma compartilhado por Brasil, Bolívia e Paraguai são imensos. Os incêndios históricos de 2020, que devastaram uma extensão de quase 50.000 km², chamaram a atenção de todo o mundo, mas são apenas um dos fatores que degradam a região. Ecossistema que funciona como elo entre diferentes biomas, o Pantanal é regido por um complexo ciclo de águas e banhado por uma série de rios, muitos desses com suas nascentes localizadas fora do bioma, no Cerrado sul-mato-grossense e no sul da Amazônia mato-grossense. A destruição dessas nascentes com o desmatamento relacionado às práticas da monocultura e da pecuária, além da mineração ilegal, contribuem para o assoreamento dos rios pantaneiros, outro problema grave que assola a região.
Segundo Sandro Menezes Silva, Professor da Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e pesquisador auxiliar da exposição, “a emergência climática, com um aumento importante de temperaturas médias previsto para os próximos anos, agrava os fatores que produzem perda hídrica e incêndios avassaladores. Segundo o professor, além deles, as ameaças ao Pantanal incluem a pressão pelo desmatamento, os grandes projetos de infraestrutura regional, como a hidrovia no rio Paraguai, a mineração, a pesca predatória, a caça ilegal, a introdução de espécies exóticas invasoras e a poluição da água. “Com efeitos interdependentes, elas afetam de formas diversas cada região da planície. Reserva de água e vida, regulador do regime hídrico de amplas regiões, fonte de biodiversidade, o Pantanal dá sinais de alerta”, completa.
Sobre os fotógrafos
Lalo de Almeida estudou fotografia no Istituto Europeo di Design em Milão, na Itália. Fotodocumentarista, colabora há trinta anos com o jornal Folha de S.Paulo, produzindo reportagens visuais e narrativas multimídia sobre temas como meio ambiente e desigualdades sociais. Entre outras, suas imagens integram as séries de reportagens “A batalha de Belo Monte” (2013), “Um mundo de muros” (2017), “Crise do clima” (2018) e “Desigualdade global” (2019), todas ganhadoras de prêmios internacionais. Em 2021, sua série de fotografias “Pantanal em chamas”, publicada pelo mesmo jornal ao longo de 2020, ganhou o World Press Photo, principal premiação do fotojornalismo internacional, na categoria Meio Ambiente. No ano seguinte, 2021, foi eleito o fotógrafo ibero-americano do ano pelo Pictures of the Year (POY) Latam, concurso dedicado à fotografia documental na América Latina. Paralelamente, vem desenvolvendo, desde o início de sua carreira, trabalhos independentes de documentação fotográfica, como o projeto Distopia amazônica, que retrata a destruição da floresta em ações de desmatamento, incêndios, mineração e a invasão de terras indígenas. O trabalho recebeu o Eugene Smith Grant in Humanistic Photography e foi o vencedor global, na categoria Projetos de Longo Prazo, do World Press Photo 2022.
Luciano Candisani aprendeu a fotografar debaixo d’água sozinho, na adolescência, no litoral norte de São Paulo, motivado por sua ligação com o mar. Mais tarde, estudante e estagiário no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, produziu suas primeiras reportagens fotográficas, ao integrar expedições científicas à Antártica e à Patagônia. Colaborador da revista National Geographic desde 2000, seus ensaios visuais sobre ecossistemas e culturas tradicionais ao redor do mundo, que circulam em veículos especializados e compõem exposições no Brasil e no exterior, são movidos pelo desejo de mostrar os grandes espaços naturais remanescentes e alertar para a urgência de salvaguardar territórios e culturas em risco. No Pantanal, fez trabalhos de repercussão internacional, como a reportagem “Into the Mouth of the Caiman”, ganhadora do Wildlife Photographer of the Year, um dos prêmios mais importantes da fotografia de natureza, concedido pelo Museu de História Natural de Londres. Expôs as imagens do ensaio Haenyeo, mulheres do mar, sobre mergulhadoras anciãs da ilha de Jeju, na Coreia do Sul, no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, em 2019. Uma seleção das imagens que produziu ao longo de dez anos em regiões diversas do Pantanal compõe seu livro Pantanal terra d’água (Vento Leste, 2014).
Sobre o Documenta Pantanal
O Documenta Pantanal, realizadora da exposição em parceria com o Instituto Tomie Ohtake, é uma iniciativa que conecta profissionais de áreas diversas em torno da urgência de tornar as fragilidades e as riquezas do Pantanal Mato-grossense mais conhecido do público. “Ao longo de seus cinco anos de existência, o Documenta Pantanal vem se empenhando em apontar os efeitos das mudanças climáticas e da ação humana sobre o bioma em filmes, livros e campanhas, entre outras ações, sendo Água Pantanal Fogo a primeira exposição realizada pela iniciativa”, destacam Mônica Guimarães e Teresa Bracher, diretoras do projeto.
Exposição:
ÁGUA PANTANAL FOGO
Curadoria: Eder Chiodetto
Patrocínio: Itaú e CSN
Abertura: 09 de março, às 11h
Em cartaz até 12 de maio de 2024
De terça a domingo, das 11h às 19h – entrada franca
Instituto Tomie Ohtake