Aos 35 anos, o ex-jogador Anderson revela à nossa redação detalhes de sua vitoriosa carreira no futebol. Aposentado desde 2019, o gaúcho admite que se tivesse outra mentalidade poderia ter ido ainda mais longe, mas acredita que “ganhou tudo que tinha para ganhar”. Ele relembra com orgulho dos anos vividos no Manchester United, entre 2007 e 2014, e da parceria que teve com CR7.
— Logo que cheguei eu fui para a casa do Cristiano. Eu agradeço muito a ele. Me adotou. A gente morou quase um ano na casa do Ronaldo. Saímos porque quisemos sair. Por ele ficaríamos lá. Não gastávamos com nada. Nani e eu, para não sermos cara de pau, tínhamos que fazer pelo menos um mercado. O cara levava a gente para o treino, dava alimentação, tinha a cozinheira para a gente. Tinha piscina dentro e fora de casa, jacuzzi, quadra de tênis — conta Anderson.
No United, Anderson conquistou 12 títulos: quatro vezes a Premier League, quatro vezes a Supercopa da Inglaterra, duas vezes a Copa da Liga Inglesa, além de uma Champions League e um Mundial de Clubes. Além do comando de Alex Ferguson, quem admira muito (detalhes da relação mais abaixo na matéria), o ex-jogador credita o sucesso ao “mix de campeão” que a equipe tinha.
“Nosso time tinha jogador bonito, jogador mais feio, jogador vagabundo, jogador certinho… tinha um mix de time campeão. Na nossa época nem tinha Instagram. Se tivesse Instagram a gente estaria f***. Porque a gente fazia tanta m***. Mas lá dentro a gente resolvia”.
“Manchester United está uma bagunça”
Vivendo em Porto Alegre, enquanto aguarda o nascimento de seu nono filho, o ex-jogador tem assistido futebol e acompanhado o Manchester United. No entanto, o ex-meia lamenta o momento da equipe, que recentemente foi eliminada na primeira fase da Champions League e não conquista o Campeonato Inglês há 11 anos.
— Hoje em dia, os clubes pequenos vão jogar em Old Trafford e não têm medo. Hoje o clube está sem saber qual treinador vai colocar, quem controla, uma bagunça… O Manchester contrata às vezes muito errado. Se vai pagar 100 milhões num jogador, paga no Neymar. Jogador que vai fazer a diferença. O Manchester paga 70, 80, 90 milhões em jogadores que não tem lógica. O desespero do clube eu acho que é tão grande que qualquer um está servindo — reclama.
Anderson, que deseja voltar a trabalhar com futebol, com gestão de categorias de base, opina que o clube de Manchester errou ao se desfazer de ex-jogadores que conheciam bem o clube. Para o ex-atleta, faltou ao United proteger Cristiano Ronaldo em seu retorno, entre 2021 e 2022.
— Quando teve a volta do Cristiano… cara, é o Cristiano Ronaldo. Protege ele. Hoje o Cristiano tem 50 gols. “Ah, mas é na Arábia Saudita”, mas tem 50 gols. De três chances, duas ele vai fazer, isso é fato. E quem joga contra ele, tem medo. E hoje ninguém tem medo de jogar contra o Manchester. Sabem que o Manchester está tomando porrada atrás de porrada. Ronaldo chegou num momento do Manchester de construção e falaram: “Se vira”. E marcou 25 gols. E depois foi embora. Tem alguma coisa errada.
O título da Champions e o pênalti decisivo
Os olhos do ex-atleta brilham ao contar do ápice de sua carreira, que aconteceu no título da Champions League 2007/08, vencendo o Chelsea na decisão por pênaltis. Anderson lembra que saiu do banco de reservas nos últimos instantes, justamente para ser um dos cobradores.
Relação com Sir Alex Ferguson
Anderson lembra com muito carinho do clima que existia no elenco do Manchester United nos tempos de Sir Alex Ferguson. Ele revela que, ainda hoje, existe um grupo no Whatsapp com nomes como Evra, Ferdinand, Rooney, Nani, Carrick, Tevez, Ji-Sun Park, Chicharito e outros. Além de Cristiano Ronaldo, outro que teve uma relação muito próxima com o brasileiro foi o histórico treinador escocês.
— Foi a primeira vez que eu peguei avião privado. Fui para Manchester. Tudo escuro na cidade às quatro da tarde. Aí chegamos lá, já vem os câmeras. Aí eu vejo um senhorzinho vindo falar comigo, de chinelo de dedo. Eu não entendia nada. Aí a minha mãe: “Esse é o teu treinador”. Aí eu: “Esse é o meu treinador?”. Aí eu dei a mão a ele, e dali ficou um carinho e amizade muito grande.
“O Manchester acabou”
A temporada 2012/13 (a da última Premier League conquistada pelo clube) marcou a saída de Sir Alex Ferguson. Depois de 27 anos no Manchester United, o treinador escocês se despediu para a surpresa do elenco. Anderson conta como foi lidar com a despedida.
— Ferguson e eu tínhamos um carinho muito grande. Era além de treinador e jogador. Ele me fez entender as coisas. Me botou no meu lugar. Ele controlava o Manchester 100%. Um dia eu chego atrasado do treino, quando o Evra me falou: “Bah, negão, o homem vai sair”. Aí eu achei que fosse sacanagem, mas ele disse que era sério. Aí já vem aquele calafrio, aquela tristeza no coração. Aí ele (Ferguson) olha para mim e eu falei para ele parar com essas loucuras. Ele me deu a mão e disse: “Obrigado filho. Obrigado por tudo e por ser essa pessoa maravilhosa. Por eu te xingar muitas vezes. Dizer que você é uma pessoa fantástica, menino de ouro.” Aí eu comecei a chorar.
O ex-meia do United revela o duro sentimento que os jogadores tinham ao saber da saída de Ferguson e conta o que o escocês tinha como diferencial em seu trabalho.
— Eu cheguei em casa muito triste. Aí ficou naquele ano uma sensação de que o clube morreu. Sentou eu, Evra, Welbeck e a gente falava: “Acabou o Manchester”. Ele (Ferguson) sabia a hora de te dar amor e de te xingar na tua cara se fosse preciso e te fazer chorar na frente de todo mundo. Já vi vários jogadores acabarem chorando. Não chorar porque xingou, mas chorar de raiva. Não tinha jogador que ia ganhar mais salário que ele ou ter mais voz que ele. O clube foi o que foi por causa dele — resume Anderson.
Passagem pelo Internacional
“No Brasil, às vezes é complicado. Eu saí do Inter como o jogador com mais assistências no clube. Nunca tive uma sequência boa de jogos que me deram. E em um ano eu tive seis treinadores. É loucura. Como um jogador vai ter seis treinadores em um ano? É impossível”.
Início no Grêmio e a “Batalha dos Aflitos”
“Foi muito bom. Eu era um jogador de muita personalidade. Por ser um jogador de Vila, ter o atrevimento, acabou eu entrando no meu primeiro jogo como profissional, fiz o gol num Grenal. O time do Inter era uma máquina. Eu consegui fazer o único gol do Grêmio. Joguei os últimos jogos do Brasileiro, mas o Grêmio já estava rebaixado. Fui depois o melhor jogador do Mundial Sub-17 e voltei já vendido para o Porto. E consegui fazer aquele efeito da história da Batalha dos Aflitos. É um momento que levo para sempre na minha vida. Esse e a final da Champions League. Para um Guri que tem 16 anos é muita coisa. Tive que sair do Grêmio no tribunal, pois era menor de idade. Saí do Grêmio como ídolo, em tese. Apesar de eu dizer para todo mundo que eu sou 5% e o Gallatto é 95% daquela história. Não existiria Anderson se não fosse o Gallatto, essa é a verdade. Se ele não pegasse o pênalti não existiria o gol do Anderson histórico. Ele merece esse crédito”.
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