Você aceitaria de volta, como um empréstimo, uma coisa que antes era sua? É isso que acontecerá com Gana nos próximos meses: o Reino Unido enviará cerca de 32 artefatos para o Manhyia Palace Museum (um museu histórico situado em Kumasi, no Gana), 150 anos após saqueá-las da corte do Rei Asante.
Entre os artefatos que serão emprestados, estão os emblemas de ouro fundido, usados por funcionários para ‘limpar a alma’ do rei Asante. Há também um anel de ouro, uma espada de Estado, um chapéu cerimonial com artefatos em ouro e um modelo de harpa em ouro fundido (Sankuo).
O anúncio dessa “parceria cultural” foi feito na quinta-feira (25). O Victoria and Albert Museum (V&A) de Londres e o British Museum serão os remetentes da vez, sob um contrato de empréstimo por três anos e com possibilidades de ser renovado para mais três.
A página do V&A no Instagram fez uma publicação mostrando alguns dos artefatos que serão enviados a Gana.
“Em parceria com o complexo Manhyia Palace, serão expostos em abril deste ano para celebrar o Jubileu de Prata de 2024 de Sua Majestade Real, o Asantehene, Osei Tutu II. Estes objetos serão expostos em Kumasi, em Gana, pela primeira vez em 150 anos, através de um empréstimo a longo prazo do Museu Britânico e do V&A”, diz a publicação.
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Mas por que um empréstimo de longo prazo, e não uma devolução de fato? A resposta está na lei: museus nacionais do Reino Unido não podem devolver, de maneira definitiva, artefatos que sejam alvo de contestação. Dessa forma, os acordos de empréstimo como esse são considerados uma maneira viável de retornar os objetos aos seus países de origem.
Por outro lado, os países que foram saqueados temem que os empréstimos de longo prazo sejam uma forma do Reino Unido sugerir o reconhecimento de propriedade e, posteriormente, ter domínio integral sobre os artefatos.
Em entrevista à BBC, Tristram Hunt, diretor do V&A, afirmou que os itens de ouro das joias da corte equivalem às britânicas “joias da Coroa”. Ele ainda adicionou que considera importante a parceria entre os museus e os países de origem. “Não me parece que todos os nossos museus cairão se construirmos esse tipo de parceria e intercâmbio”.
O diretor do V&A enfatizou, no entanto, que essa parceria “não é restituição pela porta dos fundos”, ou seja, não pode ser considerada uma devolução permanente a Gana.
Os contratos do empréstimo não são firmados com o governo de Gana e sim com Otumfo Osei Tutu II, o atual rei Asante conhecido como Asantehene. Os itens serão expostos no Museu do Palácio Manhyia em Kumasi, para celebrar o jubileu de prata de Asantehene.
A maior parte dos objetos foi saqueada durante as guerras Anglo-Asante do século XIX (1874). Na época, os Asante haviam construído um dos maiores impérios da África Ocidental, que se destacava por sua riqueza e atividade militar. Após as invasões europeias, foram vítimas de vários saques e perderam inúmeros objetos.
Os artefatos vão além da questão histórica: eles representam exemplos requintados da ourivesaria (arte de trabalhar com metais preciosos) Asante e têm um profundo significado cultural, histórico e espiritual para o povo Asante.
Dessa forma, a retirada deles do seu povo não significava apenas a busca por riqueza, mas sim uma forma de remover símbolos de autoridade, conforme explicou Angus Patterson, curador sênior do V&A, à BBC: “É um ato muito político”.
Fonte iG