A atriz Sabine Boghici, de 49 anos, que chegou a ser presa por aplicar um golpe milionário contra a mãe, morreu ao cair do 5º andar de um prédio na Lagoa, na Zona Sul do Rio de Janeiro, na tarde desta quinta-feira (14).
Ela chegou a ser socorrida pelos bombeiros e levada para o Hospital Municipal Miguel Couto em estado gravíssimo, mas, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, não resistiu aos ferimentos.
O caso vai ser investigado pela 15ª DP (Gávea). Uma das hipóteses investigada é suicídio. Sabine teria deixado um carta para a esposa, Rosa Stanesco Nicolau.
Sabine era herdeira de um dos maiores colecionadores de arte do país, o romeno Jean Boghici, e era casada com Rosa, acusada junto com a atriz dos crimes contra a viúva do marchand, Geneviève Boghici, de 83 anos.
Rosa, também conhecida como Mãe Valéria de Oxóssi, está presa no Instituto Penal Santo Expedito, no Complexo de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste.
Sabine Boghici chegou a ficar presa com Rosa, mas deixou a cadeia em março deste ano. As duas se casaram no fim do ano passado.
A dupla seria interrogada em uma audiência do processo no próximo dia 21, na 23ª Vara Criminal da Capital.
Sabine enfrentava sérios problemas psicológicos desde a adolescência, como depressão, ansiedade e crises de pânico. Nas redes sociais, a atriz postava fotos com animais e compartilhava pedidos de adoção e de doação.
A nossa reportagem, o advogado Hugo Novais, que faz a defesa do casal, disse que Rosa soube da morte de Sabine por uma advogada e uma psicóloga da cadeia. A defesa informou ainda que entrou com um pedido de liberdade de Rosa nesta sexta. Em caso de indeferimento, ela pede para comparecer ao velório da esposa.
Relembre o golpe
Sabine foi presa em agosto do ano passado e ganhou liberdade provisória em março deste ano.
Foi do acervo de Jean Boghici que, segundo a polícia, Sabine roubou 16 quadros — incluindo obras de Tarsila do Amaral e de Di Cavalcanti. Pelo menos dois deles foram parar na Argentina.
Enganada pela filha e depois ameaçada, a mãe de Sabine sofreu um prejuízo, estimado por ela própria, de R$ 725 milhões, entre pagamentos sob extorsão e quadros roubados.
A Polícia Civil do RJ afirma que Sabine elaborou todo o plano, no início de 2020. O primeiro passo foi contratar uma mulher para abordar a mãe no meio da rua e alertá-la sobre uma morte iminente na família — no caso, a da própria filha.
Essa mulher, que se disse vidente, levou a idosa a outras duas comparsas, apresentadas como uma cartomante e uma mãe de santo, que confirmaram a previsão e sugeriram que ela pagasse por “um trabalho” para salvar a filha.
Assustada, a mãe contou tudo para a filha. Sabine, então, prosseguiu com o plano e fingiu ficar apavorada, suplicando para a mãe fazer o trabalho espiritual. A mãe obedeceu e fez, em um intervalo de 15 dias, pagamentos que totalizaram R$ 5 milhões.
Depois do início do “tratamento espiritual”, Sabine começou a isolar a mãe dentro de casa, dispensando funcionários e prestadores de serviços domésticos.
No início de fevereiro, contudo, a mãe de Sabine começou a perceber que a filha tinha relação com as ditas videntes e parou de fazer os repasses.
Sabine começou a agredir e ameaçar a própria mãe, que só então percebeu o plano.
Segundo a vítima, o prejuízo de R$ 725 milhões foi causado por:
- Roubo de 16 quadros: R$ 709 milhões;
- Roubo de joias: R$ 6 milhões;
- Pagamento pelos “trabalhos espirituais”: R$ 5 milhões;
- Transferências sob ameaça: R$ 4 milhões.
O pai
O marchand Jean Boghici morreu em 1º de junho de 2015, aos 87 anos.
Nascido na Romênia em 1928, ele chegou ao Brasil em 1948, clandestino em um navio francês, após anos em fuga ao lado de amigos judeus. Jean foi um dos pioneiros no mercado das artes, dono de um acervo considerado um dos mais importantes do Brasil no século 20.
Em 2012, parte do acervo de Boghici foi destruída em um incêndio no apartamento dele e da mulher.
Entre as obras, estava justamente a que batizou uma operação feita pela polícia no caso: “Sol Poente”, de Tarsila do Amaral.
Também fazem parte do acervo trabalhos de Di Cavalcanti, Brecheret, Guignard, Vicente do Rego Monteiro, Rubens Gerchman, Antonio Dias, Calder, Lucio Fontana, Morandi, Kandinsky, Max Bill e outros 70 artistas.
Seis meses depois do incêndio de 2012, cerca de 140 peças da coleção foram destaque dentre as primeiras exposições do Museu de Arte do Rio (MAR).
Fonte g1