“Vou virar uma velhinha maluquete”, diz Angélica, prestes a completar 50 anos – e ainda muito longe de ser qualquer tipo de velhinha – ao contar que uma troca de ascendente, segundo sua astróloga, fará com que “desamadureça”. Para além da mudança no plano astral, a chegada do quinquagenário marca também um momento de transformação pessoal e profissional. Um dos rostos mais conhecidos da televisão brasileira, este mês a apresentadora estreia a nova série Angélica: 50 e tanto, que vai ao ar no Fantástico e no GNT. Enquanto isso, também se aprofunda em questões ligadas a saúde mental e bem-estar, no comando do portal Mina Bem-Estar (e, no âmbito íntimo, duas vezes por semana com a mesma terapeuta que frequenta há 15 anos).
Focado em autocuidado para mulheres, o site trata de assuntos do universo feminino sem se limitar por tabus ou cair em clichês. “As pessoas me viram crescer na televisão e cada um idealizou uma Angélica na sua cabeça. Aí, quando essa Angélica sai um pouco disso, impacta”, diz a Marie Claire. Mãe de Joaquim, Benício e Eva, casada há 20 anos com Luciano Huck, ela também divide seus pensamentos sobre maternidade e casamento e faz um balanço leve e lúcido sobre corpo e mente aos 50, sempre com muita honestidade. “Tenho feito várias reflexões que jamais faria se não tivesse que dar uma entrevista”, confessa.
Autoimagem
“Por causa da minha imagem na TV, sempre fiz exercícios e a dieta era uma imposição. Fui uma adolescente que lutava com o peso. Era preocupada com o corpo, tinha muita pressão. Hoje a necessidade não é pro corpo estar ‘bom’, mas estar com saúde. Quero me sentir bem, entrar numa roupa legal, mas a celulite está ali e tudo bem. Tem dias em que me sinto bonita e outros não. Quando vi as fotos de Marie Claire, eu me achei gata. No geral, gosto do que estou vendo. Está tudo bem. Não me permito mais não me aceitar”.
Bem-estar
“Meus projetos de bem-estar nasceram de uma busca pessoal e viraram algo maior, em que quero dividir o que aprendo. O Mina Bem-Estar [portal de notícias sobre bem-estar do qual é cofundadora] é muito pessoal e autoral, é um aprendizado diário. É o máximo, toda semana tem coisa nova, gente maravilhosa falando. Tenho gostado muito de criar porque sempre fui mandada pra lá e pra cá. Dizem que a melhor parte da festa é você se preparar pra ela, e estou realmente achando isso. Sempre fiz programas de entretenimento em que a gente não se aprofunda. Então pensei: o que vou deixar para essa geração que cresceu comigo e para a geração da minha filha? E eu realmente acredito que a saúde mental é uma pauta muito importante. Além disso, se eu puder mexer em tabus do universo feminino, fazendo as pessoas refletirem, mesmo que me xinguem, estou atingindo meu objetivo. Existe uma imagem criada sobre mim. As pessoas me viram crescer na televisão e cada um idealizou uma Angélica na sua cabeça. Aí, quando essa Angélica sai um pouco disso, impacta”.
Carreira
“Vivi o susto da mudança dos meios de comunicação há uns quatro anos, quando saí da TV. Eu já estava num processo de autoconhecimento, de querer me encontrar como pessoa, principalmente, e não como profissional, porque nessa parte achava que já estava tudo resolvido. Aí, quando comecei a perceber essa mudança, com os streamings chegando, vi que tinha que resolver também a parte profissional. E aí tive que olhar para trás para olhar para a frente. Tive que olhar o que fiz, o que construí e o que era para ver o que queria ser. O impacto inicial é apavorante porque você está ali protegida num formato, numa coisa quentinha, nos muros daquilo que domina, e aí vem a aventura de criar. Mas hoje vejo quanto isso combina comigo – essa coisa mais fluida, livre, de fazer um projeto aqui e outro ali. A liberdade é muito a minha cara, já que nunca a vivi. Sempre fui no padrão do que estava acontecendo, só que hoje não tem mais padrão. Está tudo diferente. Então eu, que gosto de comunicação e não quero me aposentar aos 50 anos, vou me adaptar, usar a minha experiência e aprender com quem não a tem, mas tem o frescor das coisas novas que eu não domino”.
“Uma vez um guru me falou: ‘Tem duas opções para você quando envelhecer: ou você adoece ou enlouquece um pouco’. Acho que eu quero enlouquecer um pouco”.
Casamento
“Eu e Luciano [Huck] entraremos no 20º ano de casamento. Imaginem, em 20 anos, quanto eu mudei, quanto ele mudou. Acho que falta vontade para as pessoas terem relações duradouras. Falta contemplação. É preciso aceitar a mudança do outro, se divertir, participar daquilo. Isso é amor. Trocar, aprender. Nós nos divertimos e somos muito parceiros. Depois de um tempo, a parceria e o amor são o que prevalece. O resto vamos adaptando, improvisando. E o Luciano é paciente, faz tudo para não ter uma briga. Eu sou ‘angelical’ até a página dois… quando eu venho, eu venho! Quando aquece o fogo do Sagitário já falo alto. E aí ele me acalma, porque ele não gosta de falar alto, e eu adoro [risos]. Às vezes quero uma DR, acho importante, e fico ali até conseguir. Mas é raro e nos divertimos até nisso. É importante também estar a fim de conhecer o outro.”
Espiritualidade
“Sou uma pessoa de muita fé, sempre gostei de espiritualidade. Teve uma época em que li todos os livros do Dalai Lama, comecei a ficar meio budista, aí li sobre Allan Kardec… gosto de entender tudo. Agora muito mais, com meditação, ioga, gurus, livros, isso tudo me dá muita paz no campo do intelecto. Mas no dia a dia, quando vai pro real, você pega aquela razão, aquele aprendizado, coloca no coração e acalma. Acho a fé uma coisa linda, formidável. Mas a gente tem que refletir para elaborar, chorar, ficar bem e resolver. É a vida, né?”
Felicidade
“Felicidade é minha casa, meus filhos, meu marido, minha profissão. Quando vou dormir e está todo mundo em casa, eu passo no quarto de cada um dando boa-noite e agradeço. Me dá uma sensação de plenitude. Está tudo bem, todos com saúde, felizes, com seus projetos, mas todos perto”.
Maternidade
“Assim que meus filhos nasceram eles já começaram a me ensinar coisas. Principalmente a ser menos egoísta. Comecei a ter que olhar pra eles e não mais só pra mim. Fiquei mais generosa, mais empática. Aprendi também a ter paciência – antes eu não tinha muita. E acho que eles trazem um frescor de volta pra mim. Não tive essa infância que eles tiveram, curti pouco. Eles me trouxeram isso que eu não conhecia: uma infância muito mais normal e livre”.
Maturidade
“Minha astróloga falou que eu vou ‘desamadurecer’ um pouco porque meu ascendente, que é Capricórnio e me deixa mais focada, vai virar Aquário, ficar um pouco mais livre. Vou virar uma velhinha maluquete. Acho bom! Uma vez um guru me falou: ‘Você tem duas opções quando envelhecer: ou adoece ou enlouquece um pouco’. Acho que quero enlouquecer um pouco. Adoro coisas novas, adoro quando me propõem uma aventura qualquer. Quando você já tem segurança do que é, do que quer, do que pode ou não, é muito bem-vindo algo que te desafie”.
Menopausa
“Quando comecei a falar de menopausa algumas amigas disseram que eu estava maluca, e eu rebati, porque estamos falando de saúde. Foi assim que vi que era um assunto que precisava muito ser debatido. Eu lido bem com a menopausa agora porque estou indo ao médico, faço reposição hormonal, mas no início não lidei muito bem. Eu podia ter passado bem melhor se tivesse tido informação. Meu próprio médico não falava sobre. Não vamos deixar glamourosa a menopausa, não é fácil. Existe esse medo de falar sobre ela e isso tem que acabar”.
“Tenho gostado muito de criar porque sempre fui mandada pra lá e pra cá. Dizem que a melhor parte da festa é você se preparar pra ela e eu estou realmente achando isso”.
Políticas públicas
“O aborto é um direito claro da mulher. Ela tem que poder decidir sobre o seu corpo. Não temos que misturar religião. Quantas meninas perdem tudo porque viram mães? Meninas que ficam fora da escola, mulheres que são mães solo, que morrem fazendo procedimento ilegal. Temos que ter uma lei em que a mulher tenha o direito de escolher”.
Redes sociais
“As redes sociais são uma guerra de egos, tipo concurso de miss. Eu não sou dessa geração, venho do jornal, da revista, não sinto tanto essa pressão como o jovem de hoje. Mas eu me policio muito, fico muito atenta à tentação de deixar algo bater errado”.
Sexo
“No 50 e tanto recuperaram uma entrevista antiga em que me perguntam, no auge dos meus 20 anos: ‘Sexo para você é quantos por cento da relação?’ E eu falo: ‘70%!’ Na hora pensei: ‘Meu Deus!!’ [risos]. Agora, falando sério, sexualidade é vida, é importantíssima, mas acho que baixei para 50%, porque os outros 50% são a paz de um relacionamento. Ficar vendo filme também é bom. Mas, quando vi essa entrevista, pensei: ‘Nossa, sempre gostei bastante’ [risos]. É hormonal mesmo, instintivo, primitivo, uma coisa animal nossa. Sexo é vital, precisamos desse contato com a nossa natureza”.
Sororidade
“No Criança Esperança, eu, a Xuxa e a Eliana estaríamos juntas pela primeira vez. Começou nos bastidores uma intriga em que uma equipe não contava para a outra o que faria. Enquanto isso, nós três estávamos nos ajudando, dando pitacos sobre que roupa escolheríamos, o que ficaria bom ou não na outra, se iríamos com a mesma paleta… Estamos escaldadas, quebramos esse ciclo, não queríamos uma situação dessa de novo. Foi legal mostrar esse exemplo de empatia e sororidade para essa geração. Acho que competição saudável é legal, mas quando pega no ego, na beleza, já se perde”.
Equipe
Fotos Bruna Castanheira (GrouPart)
Direção Criativa Estela Padilha
Direção de Moda Larissa Lucchese
Beleza Silvio Giorgio, com produtos Guerlan, Keune Haircosmetics (Capa Mgt)
Produção Executiva Vandeca Zimmermann
Produção de moda Leila Pigatto e Manu Fiães
Assistente de Beleza Yanthi Brignol
Assistentes de Fotografia Bia Garbieri, Franklin Almeida e Marcelo Cucatti
Camareira Daniela Campelo
Manicure Rose Luna
Produção de objetos Vandeca Zimmermann
Tratamento de Imagem Telha Criativa
Agradecimento 3T Locadora, 42Studio
Fonte Revista Marie Claire