A saída de Silvio de Abreu, criticado por uns por formar “panelinhas” nos bastidores, ainda repercute na direção de Dramaturgia da Globo.
O criador de A Próxima Vítima e Belíssima tinha como principal característica a organização. Com ele, os horários das 6, 7 e 9, além da extinta Malhação, desfrutavam de uma calmaria invejável, com sinopses aprovadas, autores trabalhando em paz e elencos reservados com antecedência.
Com Ricardo Waddington, sucessor de Silvio, e José Luiz Villamarim, o atual ocupante, o setor passa por uma tempestade sem fim. E aqui não se discute o talento de ambos, diretores ousados e com feitos empilhados no currículo. Mas a área precisa de um autor, um especialista.
Ao abrir mão de Silvio de Abreu, a Globo também deixou partir outros talentos fundamenteis no processo de produção do seu mais importante produto, as telenovelas. Perdeu Mônica Albuquerque, Edna Palatnik e Mauro Alencar, trinca que dava suporte ao Silvio.
Agora, com uma nova organização, Amauri Soares passou a apitar no setor, em “parceria” com Villamarim. Assim como Waddington e o Zé, Amauri não é o nome ideal para a função – e de novo, aqui não se questiona qualquer capacidade alheia. Mas, um executivo forjado no jornalismo do Grupo é a figura mais adequada para fazer o riscado?
A coluna, surpresa com uma Globo que mete os pés pelas mãos como nunca antes, sempre se questiona o porquê de o setor não ser entregue novamente a um operário do gênero. Se a volta do Silvio de Abreu é impossível (será?), por que não apostar em alguém como Ricardo Linhares, que sempre socorre novelas em apuros, ou até mesmo na Gloria Perez?
Organização sempre foi marca da Globo
Autora de A Vida da Gente e Um Lugar ao Sol, Licia Manzo trabalhou meses na sinopse de O País de Alice, e até entregou um bloco de capítulos, quando foi avisada do cancelamento da obra. Nos bastidores, o comentário foi de que o projeto era muito “elitista” para a faixa das 18h – narrava o drama de uma jovem violinista clássica.
Seis meses após deixar a faixa, Mário Teixeira, criador de Mar do Sertão, trabalha às pressas na concepção de No Rancho Fundo. A chance de algo dar errado não é pequena, dada a urgência da coisa. A estreia está prevista para 1° de abril, em substituição a Elas por Elas, em crise de audiência.
Aliás, a falta de um autor tocando a Dramaturgia ajudaria a coibir erros primários, como a escolha de um remake de um clássico das sete para a faixa das seis. Historicamente, novelas das 19h sempre apostaram no humor pastelão, enquanto que as das 18h em enredos de época e romance.
Claramente, Elas por Elas fala para o público errado. Não é culpa dos autores, tampouco do elenco. Um técnico tocando a área saberia identificar essa imprecisão facilmente. Assim como evitaria a repetição de temas centrais em Terra e Paixão e Renascer. Ou até mesmo o desenvolvimento de uma história fraca como é Fuzuê, cujos índices tendem a repetir Geração Brasil.
Quando se defende um especialista para tocar a Dramaturgia, não se elimina por tabela os eventuais erros desse profissional, haja vista produções equivocadas que foram aprovadas no passado em todas as faixas. Mas as chances de acerto seriam bem maiores do que as atuais.
Fonte RD1