À medida que o ‘Setembro Verde’ destaca a conscientização sobre doações de órgãos e tecidos, o Rio de Janeiro enfrenta uma crescente demanda por transplantes de córnea, com mais de 4.200 pacientes aguardando ansiosamente por uma oportunidade de enxergar novamente. Neste contexto, a generosidade dos doadores é fundamental, proporcionando uma nova perspectiva de vida para aqueles que dependem desse ato solidário.
Dois casos recentes ilustram a importância das doações: Maria Helena, uma recém-nascida que nasceu cega devido a uma rara anomalia ocular, e Manuella Vianna, uma mulher que inicialmente acreditou se tratar de uma alergia por conta do uso de lentes de contato e, infelizmente, perdeu a visão em ambos os olhos. As pacientes tiveram a chance de recuperar a visão por meio de transplantes de córnea, mostrando como a generosidade dos doadores pode trazer esperança e transformar vidas.
A jornada que leva a um transplante de córnea começa com a crucial seleção de doadores. Para serem considerados doadores potenciais, as pessoas devem estar dentro da faixa etária de 2 a 80 anos e falecer no prazo de 6 horas após a parada cardiorrespiratória (PCR) ou, em caso de refrigeração do corpo, em até 24 horas após o evento.
Fila de transplante
A alta demanda por córneas saudáveis contrasta com a oferta limitada, o que resulta em uma fila de espera significativa. Os pacientes que necessitam de um transplante de córnea podem enfrentar uma espera prolongada. Segundo o Dr. Paulo Philippe, oftalmologista e chefe do ambulatório de córnea do Hospital Federal de Bonsucesso e do Hospital do Olho de Duque de Caxias, o período de espera prolongado é um desafio que muitos pacientes enfrentam enquanto aguardam por um transplante de córnea que pode significar a diferença entre a escuridão e a luz. “Hoje estamos operando pacientes que entraram na fila em 2019”, conta.
Os pacientes que necessitam de um transplante de córnea têm duas opções para entrar na lista de espera. Eles podem ser encaminhados por um médico ou iniciar o processo por conta própria. Em ambos os casos, uma equipe de transplante credenciada pelo Ministério da Saúde cuidará da inscrição no Sistema Informatizado de Gerenciamento (SIG), que é coordenado pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT). Como resultado, cada paciente receberá automaticamente o Registro Geral de Cadastro Técnico (RGCT), um número de identificação que fornece informações essenciais, como a posição na lista de espera.
O critério para a ordem de prioridade na fila de transplante de córnea é cronológico, ou seja, os pacientes inscritos anteriormente terão prioridade para o procedimento. É importante destacar que existe apenas uma lista de espera por estado. Portanto, cada paciente só pode estar inscrito na fila de transplante de córnea de um estado específico. As centrais de transplante, que estão integradas ao Sistema Nacional de Transplantes, são responsáveis por supervisionar e gerenciar todo o processo.
Da suspeita de alergia a lentes à cegueira: uma nova vida através do transplante de Córnea
Manuella Vianna (27 anos), moradora de Campo Grande, relembra o início de seu desafio ocular em outubro de 2019. Ela acordou um dia com a visão extremamente irritada, hipersensibilidade à luz e inicialmente pensou que fosse apenas uma reação alérgica devido ao uso de lentes de contato. No entanto, a situação logo se agravou. Na consulta médica inicial, o profissional suspeitou de herpes ocular e iniciou o tratamento. No entanto, nenhum progresso foi alcançado, e o quadro se agravou nas duas vistas, tornando a visão cada vez mais difícil devido às manchas brancas que obscureciam sua visão.
Manuella passou a depender completamente dos outros para realizar as atividades diárias. Sua família, em busca de uma solução, a encaminhou ao Hospital Souza Aguiar, onde finalmente obteve o diagnóstico: herpes zóster oftálmico, uma condição que exigiria um transplante de córnea para recuperar a visão. Foi nesse momento que o nome do Dr. Paulo Philipe surgiu como uma esperança. Ele estava inaugurando um setor de transplantes de córneas no Hospital dos Olhos em Duque de Caxias, baixada fluminense, e Manuella foi encaminhada para prosseguir com o tratamento na unidade. “Eu tinha medo de ficar cega para sempre porque, na maioria das notícias, vemos o quanto é demorado conseguir um órgão e recuperar a visão”, conta Manuella.
Sob os cuidados do Dr. Paulo e sua equipe, Manuella passou por uma jornada desafiadora até maio de 2020, quando finalmente recebeu um transplante no olho esquerdo. Atualmente, ela ainda aguarda na fila para o transplante no olho direito. No entanto, graças à cirurgia bem-sucedida, Manuella conseguiu retomar sua vida normal com os devidos cuidados e voltar ao trabalho enquanto aguarda a chamada para sua próxima cirurgia.
Nova técnica de transplante de córnea devolve visão a recém-nascida com anomalia ocular rara
Maria Helena, uma recém-nascida diagnosticada com a rara Anomalia de Peters Tipo 1, que resulta na opacidade das córneas, recuperou a visão graças a uma nova técnica de transplante de córnea desenvolvida pelo oftalmologista Dr. Paulo Phillipe, realizada no Hospital Federal de Bonsucesso. A técnica, conhecida como IP-DSEK, foi crucial para o sucesso do procedimento, que ocorreu em 2022, quando Maria Helena tinha apenas dois meses de idade. O transplante permitiu que a criança enxergasse pela primeira vez em sua vida, trazendo alegria para a família.
A Anomalia de Peters Tipo 1 é uma condição rara que afeta a visão devido à opacidade das córneas. Diante da gravidade do caso, o Dr. Phillipe optou pela técnica IP-DSEK, que envolve a inversão do botão corneano, corte preciso e resultou em uma lâmina mais fina e uniforme. Essa abordagem melhorou o prognóstico visual de Maria Helena e reduziu o risco de rejeição.
A história de Maria Helena e Manuella Vianna ilustram a importância dos avanços médicos e da generosidade dos doadores na restauração da visão e na transformação de vidas.
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EfeMais Comunicação // Flávia Domingues