Depois de tanto tempo atazanando o Reino dos Cogumelos, os Rabbids voltam a se encontrar com um velho amigo. Rayman chegou a Mario + Rabbids: Sparks of Hope e renovou um jogo que já beirava o esquecimento.
Quando foi anunciada no começo de agosto, já sabíamos que a DLC3, agora nomeada como “Rayman in the Phantom Show”, seria a última do jogo e fecharia um ciclo de nove anos, mesmo que momentaneamente, de parcerias entre Ubisoft Milão e Nintendo.
Joguei essa DLC com uma cópia enviada ao IGN Brasil por meio da Ubisoft Brasil, e ao longo dessa matéria, junto a uma entrevista com o diretor do jogo, mostrarei se a nova aventura de Rayman nos consoles da Big N faz sentido para o seu bolso, além de alguns detalhes desse desenvolvimento.
Um último aviso antes de começar essa análise, é importante entender que jogos de turno não eram o meu forte. Sempre recusei os Final Fantasy clássicos por conta de seu ritmo lento, e somente quando Sparks of Hope (a versão original) concorreu no TGA de Melhor Jogo de Família em 2022, e perdeu para Kirby and The Forgotten Land, voltei a me aprofundar no gênero. Agora é hora de revisitar um dos jogos que me fez entender a importância do combate por turno.
Revisitando Mario + Rabbids
O jogo original é uma mistura de dois grandes gêneros. O primeiro é a clássica ação/aventura que se desenvolve ao longo de uma história mediana, que na verdade é o background para o segundo gênero, o combate estratégico por turnos, em que cada personagem tem armas e habilidades especiais para enfrentar seus inimigos, no maior estilo RPG de mesa… mas sem a mesa.
A DLC de Rayman não muda muito as mecânicas básicas do jogo. As funções são as mesmas, mas com coisas extras, afinal é assim que uma DLC deveria ser. As principais adições são as características clássicas dos jogos de Rayman, que foram muito bem implementadas no game.
Durante a exploração Rayman consegue usar seu soco à distância e a habilidade de voar com seu cabelo, ferramentas que realmente dão um respiro à exploração truncada de Mario + Rabbids. Essa, sem sombra de dúvidas, é a parte mais divertida da DLC.
Por mais óbvio que pareça, o personagem da Ubisoft brilha muito mais na exploração do que no combate, suas características surgiram em jogos de ação/aventura e investigar o universo de Phantom Show dá vontade de revisitar os games clássicos do Rayman.
A trama é baseada em um espetáculo de ópera, que mais parece um programa de TV. Rayman, Rabbid Mario e Rabbid Peach são convidados por Phantom, um dos inimigos do primeiro jogo da saga, para o show fantasma (daí o nome da DLC). A equipe de heróis precisa purificar os sets de gravação da clássica gosma corrompida, que está literalmente em todas as fases do jogo, enquanto aumenta o nível de audiência da transmissão.
A verdade é que o plot é tão fraco, que ter spoilers nesse texto não mudaria em quase nada sua experiência. No fim das contas, a história continua sendo um background para uma jogabilidade nichada, e por mais que a exploração tenha melhorado, não foi o suficiente para me convencer a querer jogar novamente o restante do game.
Quanto ao combate, nada de especial. Rayman tem um set interessante de habilidades e funciona com duas transformações diferentes que fazem referências a Rayman 3 (Vórtex e Foguete). Mas tirando alguns elementos que pouco impactam a gameplay, como os agarrões para se movimentar pelo mapa e suas diversas torretas, não rolou nada que já não vimos em outros personagens ou DLCs.
Rayman não ter nenhuma habilidade de combate com socos foi um verdadeiro ponto de interrogação na minha cabeça, e foi para tirar essa e outras dúvidas que conversei com o Davide Soliani, diretor criativo de Sparks of Hope.
“Rayman é famoso por seus socos, mas também por sua arma, o atirador de desentupidores”, começa Soliani. “Queríamos ter os dois, então decidimos usar os socos do Rayman na exploração e os desentupidores, junto com a transformação do traje, no combate. Então, sim, queríamos os dois… e o helicóptero de cabelo… e o gancho, e o foguete”.
As últimas experiências da comunidade com Rayman foram em Legends e Origins, dois jogos extremamente rápidos baseados em ritmo. A tentativa de colocar Rayman em um game de turnos é quase como dirigir uma Ferrari, mas esquecer de colocar gasolina.
Durante nossa conversa perguntei a ele quais foram os desafios de colocar um personagem rápido em um jogo tão lento – Davide disse que o desafio foi gigante: “No final das contas os jogos de plataforma e games táticos são o completo oposto. Conseguimos usar essas habilidades clássicas tanto na exploração, quanto no combate, resultando em um jogo muito mais dinâmico”.
Por fim, gostaria de destacar a maestria da trilha sonora e design de áudio do conteúdo extra. Por se tratar de uma ópera, era esperado que a música fosse parte relevante da produção – e realmente foi. A Ubisoft Milão convidou tanto o dublador original, quanto o compositor da trilha sonora dos primeiros jogos do Rayman para essa produção, fazendo com que a experiência fosse a mais próxima possível daquela que tivemos no PS2.
As performances musicais de Phantom são muito divertidas de assistir, em especial com a localização em PT-BR das legendas que consegue fazer piadas e trocadilhos constantemente sem perder o sentido das falas. Não quero dar spoilers, mas fique atento a um tal Rayman Berinjela.
Vale a pena comprar a Rayman in the Phantom Show?
Para dar um veredito final, eu diria que a DLC foi divertida até certo ponto. Relembrar as mecânicas e desafios de Mario + Rabbid e ter novas possibilidades com as skills do Rayman não foi ruim de maneira alguma. Mas o grande brilho do conteúdo extra fica na exploração, e por mais que essa parte seja divertida, é mais barato e honesto comprar Rayman 3 na loja da Ubisoft.
Então dividirei o “Vale a pena comprar” em dois perfis diferentes: aqueles que nunca jogaram Mario + Rabbids e gostam muito de Rayman e aqueles que já jogaram o jogo base e só procuram um conteúdo extra para se divertir ainda mais.
Se você já for adepto ou tiver interesse em jogos de turno Sparks of Hope pode ser uma boa pedida pra você, a DLC vai ser uma cereja no bolo, e o combo da versão base com a DLC já está disponível na loja da Nintendo.
Se você não gosta de combate em turno, isso definitivamente não é para você. A exploração não compensa o ritmo lento do combate e as batalhas finais serão uma tortura na sua gameplay. Gaste seu dinheiro com outros jogos de Rayman, você vai aproveitar muito mais.
Se você já é adepto ao universo de Mario + Rabbids e jogou as outras DLCs, Rayman in the Phantom Show pode ser uma boa pedida. É uma DLC de R$ 75 para uma gameplay de quatro a cinco horas. Você não vai se decepcionar, os pontos fracos do jogo principal continuam fracos, e os fortes são mais completos com o novo personagem.