Proibido no Instagram e Facebook, o mamilo feminino é uma das maiores tendências deste ano. Ou melhor, a exibição dele — obviamente, o seio em si não teve nenhuma novidade.
As auréolas do peito estão em muitos dos looks do chamado naked dress (vestido nu, em inglês), visual cada vez mais comum em baladas noturnas, desfiles de grife e tapetes vermelhos.
O mesmo acontece com a calcinha. Normalmente vista às escondidas, a peça está vivendo seus dias de glória.
Maior órgão do corpo humano, a pele se tornou uma espécie tecido fashion. Roupas transparentes, que realçam detalhes como mamilo e lingerie, são cada vez mais frequentes.
Semana passada, por exemplo, vimos a cantora Doja Cat posar trajada num vestido completamente rasgado.
Os recortes, que deixavam seus seios e calcinha à mostra, eram tantos que o look remeteu a uma grande teia de aranha — bicho que estampa a capa de seu novo disco, “Paint The Town Red”.
Já Dua Lipa, outra adepta à tendência, vai para outra direção do naked dress. No evento de lançamento de “Barbie”, em julho, a artista usou um vestido transparente que, em vez do excêntrico, valorizou ares glamourosos, com pedraria reluzente. A roupa destacou tanto o peito quanto a lingerie acima da vulva da britânica.
Ainda em julho, a cantora Rita Ora também apareceu coberta de transparência, num tecido comum na tendência: a renda.
Na alta costura, grifes como Schiaparelli e Gucci surfam na onda em coleções recentes.
Vestindo nude
A ideia de vestir uma roupa que ponha o corpo em evidência, claro, não surgiu em 2023. No ano passado, já começava a despontar, rendendo até um post irritado da atriz Florence Pugh rebatendo a piadas sobre o tamanho de seus seios, que ficaram em evidência no bufante vestido que ela usou num desfile da Valentino.
Em 2014, Rihanna vestiu milhares de cristais, numa peça com referências aos anos de 1920 que muito destacava suas mamas. Indo além, em 1974, Cher usou um dos looks mais comentados do estilo.
Em termos de popularidade, no entanto, foi em 2023 que a moda grudou de vez.
Para Fernando Hage, coordenador do curso de moda da FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado), o recém-sucesso do naked dress é consequência não só de um visual que já vinha crescendo, como também de debates que permeiam a década.
“Hoje, existe muito uma discussão sobre o papel do corpo enquanto protagonista de identidade”, afirma ele.
“Até o início do século 20, a ideia do luxo, na moda [feminina], era de que a mulher só mostraria certas partes do corpo em ambientes íntimos. Em públicos, os vestidos sempre eram de manga comprida, com luvas e gola alta. Havia a ideia do corpo como algo privado.”
A partir da segunda metade do século 20, a pele feminina começou a aparecer mais. E o próprio conceito de pudor, ou do que é visto como recatado, passou por mudanças.
“Antes, o corpo não era protagonista. Ele era apenas o suporte para uma silhueta. Não importava o que estava embaixo daquele vestido-balão, ou daquela saia da [imperatriz] Maria Antonieta, de volume na lateral.”
Com menos foco na silhueta, a moda foi gradativamente, explica Hage, dando espaço para peças que, antes, eram impensáveis, como o biquíni.
Já no século 21, a chegada da internet ajudou a popularizar a nudez e a seminudez, analisa o especialista.
Além disso, debates contemporâneos sobre feminismo, ele afirma, fizeram mulheres enaltecerem a autoimagem, o que subverte padronizações estéticas machistas.