O vestibular é uma prova escrita, mas, com um pouco de imaginação, as obras literárias obrigatórias podem se transformar em roteiros prontos para ganhar vida no cinema. É assim que o professor de Literatura e de Arte do Curso e Colégio Positivo, Rodrigo Wieler, propõe encarar os livros cobrados pela Fuvest e pela Unicamp em 2026.

“Não se trata apenas de decorar nomes de personagens ou temas. Essas obras são convites à direção e à atuação. Cada uma tem uma estética, um ritmo, uma atmosfera. Dá pra ler como se estivesse vendo um filme”, afirma o professor.
E o Oscar vai para a… Fuvest!
Com nove obras escritas exclusivamente por mulheres, o vestibular da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest), que dá acesso à USP (Universidade de São Paulo), busca valorizar o protagonismo feminino na literatura. “A lista deste vestibular realmente merece um prêmio. Fique atento, pois esse catálogo pode ser tema de uma questão da prova”, alerta Rodrigo.
Entre os destaques “cheios de emoção” estão As Meninas, de Lygia Fagundes Telles; Caminho de Pedras, de Rachel de Queiroz; e Memórias de Martha, de Julia Lopes de Almeida. Nelas, o professor recomenda atenção especial aos gestos, silêncios e entrelinhas das personagens: “Eles podem dizer mais do que as palavras escritas.”
Na categoria “histórias de amor”, os indicados são Balada de Amor ao Vento, de Paulina Chiziane, e Canção para Ninar Menino Grande, de Conceição Evaristo. Longe dos clichês hollywoodianos essas obras apresentam o amor sob uma perspectiva realista, com seus altos e baixos, dores e alegrias.
Para “melhor trilha sonora” os destaques são O Cristo Cigano, de Sophia de Mello Breyner Andresen; Opúsculo Humanitário, de Nísia Floresta; e Nebulosas, de Narcisa Amália. “Esses livros de ensaios e poemas pedem uma leitura com fones de ouvido — quase como uma experiência imersiva de um curta experimental”, sugere Rodrigo.
Para quem prefere cenas estáticas, A Visão das Plantas, da portuguesa Djaimilia Pereira de Almeida, é a melhor opção. “Imagine a câmera parada enquanto você mergulha nas memórias do protagonista. Respeite o ritmo lento: essa obra exige uma leitura contemplativa”, recomenda o professor.
Vários sucessos aguardam na tela da Unicamp
Conhecido pelos temas contemporâneos, o vestibular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) é um dos mais concorridos do país. Por isso, também é essencial compreender o tipo de leitura que costuma ser cobrada.
Na categoria “Crítica Social”, figuram A Vida Não é Útil, de Ailton Krenak, e Vida e Morte de M.J. Gonzaga de Sá, de Lima Barreto. Krenak, o primeiro indígena eleito para a Academia Brasileira de Letras, faz uma crítica ao consumismo desenfreado. Já Lima Barreto convida o leitor a refletir sobre o racismo e a desigualdade na sociedade pós-escravista.
As Canções de Cartola, do cantor e compositor de mesmo nome, formam um musical melancólico, enquanto Prosas Seguidas de Odes Mínimas, de José Paulo Paes, podem ser lidas como cenas de um curta-metragem.
Entre os contos que merecem aplausos estão No Seu Pescoço, de Chimamanda Ngozi Adichie; Olhos d’Água, de Conceição Evaristo; e Morangos Mofados, de Caio Fernando Abreu. “De denúncia social à mistura de realidade e delírio, essas obras pedem uma leitura com empatia: imagine a câmera focada no rosto dos personagens, captando cada expressão”, orienta Rodrigo.
Por fim, o prêmio de “Clássicos que Nunca Saem de Moda” vai para Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, e Casa Velha, de Machado de Assis. “Provavelmente você já leu esses clássicos alguma vez na vida, mas não tome nada por garantido — a releitura pode trazer uma visão que você não teria imaginado”, aconselha o especialista.
Vestibular com lente de cinema
Para o professor, os livros do vestibular não são apenas conteúdo: são arte. “Quem lê com atenção, interpreta com sensibilidade e mergulha nas camadas dessas obras já está com o ingresso carimbado para a aprovação. Prepare o discurso — a próxima cerimônia de premiação pode ter o seu nome na lista”, conclui.
