Os ataques terroristas a Israel foram os maiores ocorridos nas últimas décadas, com mais de 700 israelenses mortos e mais de uma centena sequestrados. As críticas às falhas de segurança das Forças Armadas têm crescido, já que Israel é conhecido pelo seu sofisticado sistema de defesa antimísseis, e pela região de Gaza estar submetida a um forte esquema de segurança.
Contudo, para além do problema militar, há que se lembrar que Gaza é uma das regiões mais pobres do mundo, o que leva à questão: quem financiou este ataque? Afinal, foram mais de 2.200 foguetes, dezenas de caminhões e centenas de homens envolvidos no ataque terrorista. Uma operação desta natureza é cara, além de demandar um nível de inteligência que implica em planejamento de longo prazo.
Muitos têm corrido para culpar o governo do presidente americano Joe Biden, que liberou 6 bilhões de dólares de fundos do Irã, conhecido apoiador do Hamas, que estavam bloqueados na Coréia do Sul.
O governo Biden já rechaçou essa afirmação, justificando que nenhum dólar ainda foi gasto e o dinheiro somente poderá ser usado para adquirir comida e medicamentos. Fato é que o dinheiro iraniano que anteriormente seria destinado a essas rubricas poderia ser redirecionado para atividades menos “humanitárias”, inclusive em antecipação do desbloqueio, que já vinha sendo anunciado há tempos.
Adicionalmente, a retirada desastrosa dos Estados Unidos do Afeganistão deu ao mundo um recado claro sobre a tibieza moral e militar do atual Executivo americano, diminuindo o medo de uma retaliação econômica e militar por parte da (ainda) maior potência do planeta.
O ataque a Israel parece se encaixar nesse contexto, onde as consequências podem reverberar por muito tempo. Se o conflito escalar e se prolongar, Israel vai precisar do mesmo tipo de armamento pesado que está sendo mandado para a Ucrânia. Isto quando a oposição doméstica americana engrossa o coro contra a ajuda militar a outros países às custas do déficit estadunidense.
Também chama atenção que o momento do ataque parece ter sido escolhido a dedo pelo Hamas, um dia após o aniversário de 50 anos da Guerra do Yom Kippur. Na ocasião, o Egito e a Síria surpreenderam Israel atacando pelo sul e norte para recuperar territórios perdidos em uma guerra anterior, mas acabaram expulsos semanas depois.
Entender por quem e como o ataque foi financiado é essencial para se apurar os mandantes dessa barbárie e se fechar os canais que poderiam permitir outros atentados. Como sempre, “seguir o dinheiro” é a chave para qualquer investigação sobre os culpados.
Evidentemente, nesse ínterim, Israel se defenderá e dará a resposta militar que entender necessária para garantir a sua segurança.
* Emanuel Pessoa é advogado especializado em Governança Corporativa, Direito Societário, Contratos e Disputas Estratégicas. Mestre em Direito pela Harvard Law School, Doutor em Direito Econômico pela USP, Certificado em Negócios por Stanford, Bacharel e Mestre em Direito pela UFC, além de palestrante e comentarista