Durante muito tempo no Brasil, se ouvia falar que terapia era para quem estava vivendo um sofrimento psíquico muito grave ou para pessoas que tivessem algum transtorno mental. Para os idosos, esses preconceitos não eram diferentes. Talvez fossem até mais difíceis de serem superados. Mas essa mentalidade vem mudando. Domingo (1º/10) será comemorado o Dia Internacional do Idoso. A data escolhida pela ONU é importante para pensarmos sobre esse e outros preconceitos que precisam ser vencidos por quem já envelheceu ou por quem ainda vai chegar lá.
“Diziam que psicoterapia era frescura ou coisa para ‘maluco’. Mas isso vem mudando. Na mídia tem se falado muito das vantagens de se fazer terapia”, avalia a psicóloga, professora de Clínica do Idoso, especialista em Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa e professora do IBMR, Melissa de Oliveira Pereira. O IBMR integra o Ecossistema Ânima.
Mellissa explica que esse caminho foi ampliando ao passo que a própria rede de saúde mental cresceu em atuação nos últimos 20 anos. Isso fez com que cada vez mais, não apenas a psicoterapia individual, mas também, aquelas em grupo, nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) entre outros, chegassem à população.
Quem aproveitou essa onda de esclarecimento na terceira idade, foi a professora aposentada Nilma de Brito, 72 anos, moradora de Niterói, que fez terapia durante seis meses, para tratar uma ansiedade. “Eu tinha 69 anos. Passei a me conhecer e a ter um desenvolvimento emocional melhor, a me sentir mais leve. Hoje, lido melhor com os meus sentimentos e a ansiedade foi embora”, afirma.
Nilma diz que não houve gatilhos graves para que apresentasse sintomas de ansiedade, apenas os problemas do dia a dia. Mas, que o cuidado se tornou imprescindível para levar uma vida com mais qualidade. Perguntada se a mãe dela, nesta fase da vida, faria terapia, ela é certeira: “Ela, não. Mas, naquela época, as coisas bem diferentes. Minha mãe tinha outra maneira de pensar. Mas todos deveriam passar por uma terapia”, defende.
Faz bem por quê?
A professora Mellissa afirma que as pessoas não querem só envelhecer. “Elas querem envelhecer bem, com saúde, com as suas relações pessoais em dia, com seus afetos e sentimentos bem cuidados. O acesso à psicoterapia, seja a partir de serviços públicos como os dos Caps ou das universidades, aumenta a possibilidade da população idosa ter qualidade de vida”, indica.
Nesse sentido, a psicoterapia breve ou não é sempre válida. O processo pode ajudar idosos a entenderem que o envelhecimento envolve aspectos físicos, hormonais, mas também, aspectos típicos desta própria fase de vida como a aposentadoria, a saída dos filhos de casa e nascimento de netos. “Tudo isso demanda um cuidado, para que as pessoas possam construir outras estratégias de vida e, até mesmo, criar outros espaços de convivência e de trabalho, de sonhos, de planos”, justifica.
A sociedade pode tentar tirar as pessoas do mercado de trabalho e dos espaços de convivência. “Mas as pessoas idosas estão dizendo que não vão sair de cena. Vão ficar e com qualidade de vida.” A professora diz que tem visto bons resultados com idosos que fazem terapia, se comparados com aqueles que não realizam. “Diferença é muito marcante”, salienta.
O raciocínio é lúcido. A professora explica que, a partir das terapias, há idosos que estão reconstruindo a vida, outras relações amorosas e sexuais, ou mesmo, outros vínculos de amizade e de cuidado. “Ao passo que a gente também está acompanhando uma série de problemáticas vinculadas ao envelhecimento com o aumento de consumo de ansiolíticos, entre outros. Esses dados nos mostram a urgência de ampliar o acesso à saúde mental para idosos”, diz.
Os serviços disponíveis são vários: individual, em grupo, breves, de longo prazo. Os serviços de psicologia aplicada do IBMR oferecem todos esses formatos. Há com datas de término pré-estabelecidas. “Oferecemos esses espaços de cuidado mais flexíveis pensando também nesse público 60+”, diz, sobre o serviço do IBMR.
A professora do IBMR acrescenta que, mesmo as pessoas que cresceram com as frases mais preconceituosas, já começam a se abrir mais para o processo de psicoterapia. Tudo isso se deve ao aumento da discussão sobre o envelhecimento saudável e os cuidados de saúde física e mental para idosos.
“Desde a criação do Estatuto do Idoso, da Política Nacional de Saúde do Idoso, assim como a Política Nacional de Saúde Mental, no início da década de 2000, passamos a falar mais de saúde metal do Idoso. Juntos, num mesmo momento histórico, passamos a falar da saúde mental e do envelhecimento saudável”, lembra. Neste ano, no domingo, serão lembrados os 20 anos de vigência do Estatuto do Idoso.
O Serviço de Psicologia Aplicada do IBMR (SPA) faz atendimento gratuito a toda comunidade:
As inscrições para atendimento psicológico das unidades Barra e Catete estão abertas no link: https://forms.office.com/r/R1t0bP2JGq
Informações: (21) 3544-1187
IBMR Barra (Av. das Américas, 2603 – Barra da Tijuca)
IBMR Catete (Rua Correia Dutra, 126 – Catete)